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"As memórias de um portefólio"


Estava eu, numa simples prateleira do supermercado, ainda com alguma esperança de que alguém me quisesse levar para viver outras experiências, aventuras, dramas…

Chegava finalmente a época mais entusiasmante e excitante do ano, a época escolar, onde todos nós dormíamos sem sono com uma grande ansiedade de sermos finalmente acolhidos por alguém.

Passaram dois longos e duros anos, onde via constantemente os meus amigos a iluminarem a vida de uma criança e eu, um portefólio médio, com uma cor viva para atrair boas energias e alegria, era esquecido!

Até que, num dia em que as nuvens e a chuva dominavam o céu, chega uma menina com um grande sorriso contagiante e uns belos e cintilantes olhos azuis que brilhavam mais intensamente cada vez que ela se aproximava de mim.

A primeira impressão foi perfeita! Ela pegou em mim com uma vontade imensa de me levar para casa.

Entretanto, a mãe cedeu ao seu pedido com um sorriso, deixando na menina uma sensação de que era realmente a criança mais feliz do mundo.

Eu, ao fim de tantos anos, passei de um “pobre” portefólio, sem animação e cor no seu interior, para algo que é essencial na vida dela e que guarda o reflexo do seu coração e da sua visão sobre o mundo. Eu não era apenas um conjunto de papéis sem valor, eu transportava cartas, pensamentos, histórias, mas o que sempre me fascinou, os desenhos. A pequena artista tinha um talento e uma paixão enorme pela arte e um dos seus maiores sonhos era, um dia, ser artista.

Os anos passavam e a paixão pela arte aumentava, mas sempre com a minha presença.

Certo dia, os pais surpreenderam-na com a participação num concurso fora do país, para mostrar ao mundo o seu talento. Ela assim foi e apresentou os desenhos que viviam no seu objeto mais especial, o portefólio. Não ganhou o concurso, mas os júris ficaram estupefactos perante aquele talento inexplicável. Mesmo assim, ela não baixou os braços e continuou a desfrutar do prazer pelo desenho, acabando alguns anos depois por publicar certas obras imparáveis, ficando bastante conhecida e deixando-me cada vez mais sortudo e feliz.

Foi um sucesso tão grande, que eu fui colocado, com os seus antigos desenhos da adolescência num museu para sua homenagem junto de outras recordações de famosos artistas.


Matilde Figueiredo 9ºH (Professora Paula Lima)

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