Texto vencedor do 3º lugar em Prosa B - Escola da Minha Vida
- Jornal Agrupamento de escolas Dr. Flávio Gonçalves
- 7 de mai.
- 2 min de leitura
A aluna Anaísa Ponte obteve o 3º lugar em Prosa B com este texto intitulado "A mais bela fase..."
Ah, a infância... Que bela fase. A fase em que tudo é movido a fantasia, a cor, a beleza e em que tudo é uma maravilha! Fase em que somos terrivelmente livres de sermos e fazermos o que nos bem apetecer, sem pensar nos porquês que mais tarde possam vir a florescer!
Fase bela, singela, onde criamos as nossas “Memórias Base”, memórias essas que nos acompanham para o resto da nossa passagem pela dádiva da vida, quer sejam boas ou más.
Não sou muito velha, mas tenho idade suficiente para já ter construído as minhas “Memórias base” e, parando para observar e resumir o conjunto destas, só posso chegar a uma única e impiedosa verdade: Todos os momentos que eu vivi, construíram-me, e... Que construção! Poderia compará-la a uma montanha russa, cheia de altos e baixos, de giros e rodopios, de malabarismos infinitos e travagens desafiadoras com arranques que me fizeram temer.

Lembro-me perfeitamente daquele cais, o lugar onde todos os pescadores se reuniam para as mais diversas atividades, pescavam, merendavam, discutiam, dialogavam, ajudavam-se e riam sempre juntos, num ar de cumplicidade de outras vidas. O meu avô ia todos os fins de dia para lá e eu ia com ele. Tentava perceber como trabalhava a cana de pesca, mirava, atirava e... Falhava! Era sempre a mesma sequência, que acabava com o meu avô a confortar-me com as palavras tão bem selecionadas e a incentivar-me a tentar e nunca desistir.
Ficávamos horas a pescar, voltávamos à casinha antiga e quentinha onde sempre morei, com um sorriso de orelha a orelha, não por termos pescado muito, mas sim por termos passado tempo juntos, momentos que aquecem o coração!
Sempre que penso neles, são momentos que me dão vontade de os reviver e saborear bem saboreados cada segundo.
Agora, com um pouco mais de idade, volto àquele cais que na primavera se enche de cores carregadas de amor, mas, para mim, já não tem mais sabor, à semelhança das canas de pesca, anzóis, iscas... Aquilo tinha perdido a ternura, estava... insípido. Não tinha brilho, o brilho como antes, em que tudo cintilava... Agora são só objetos que no passado carregavam muito, nada físico, mas muitos sentimentos, e... Neste momento não têm nada, não transportam valor, nem físico, nem sentimental... Nada.
Sento-me, deito-me, penso... Olho para os peixes à espera que aconteça algo. Espero pelo momento em que, de alguma forma, eu mire, atire e acerte, pescando nem que seja algo sem sentido aparente e exclame “Oh! Olha avô! Consegui”! Volto-me novamente para o mar, o grande azul sem fim, e debruço-me sobre o muro que nos separava, enquanto, por dentro, nado com aqueles peixes livres, no meu mar de esperança.
Anaísa Ponte 9º G
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